Gaita-de-fole
Este
é um instrumento milenar. Muitas pessoas pensam que sua origem seja escocesa,
mas a maioria dos historiadores não pensa assim. Uma das teorias mais aceita é
a de que a Gaita-de-Fole tenha surgido há muitos séculos nos países banhados
pelo Mediterrâneo. Em
tais regiões nascia (e ainda nasce) um caniço com o qual
tais regiões nascia (e ainda nasce) um caniço com o qual
são feitas palhetas para instrumentos musicais de sopro, inclusive a
Gaita-de-Fole.
No Egito, Países Árabes e na Grécia Antiga, tocava-se em cerimônias religiosas e festivas um instrumento que, na Grécia de nossos dias, é conhecido como "aulos", nos Países Árabes, como "mijwiz", e no Egito, como "arghoul".
No Egito, Países Árabes e na Grécia Antiga, tocava-se em cerimônias religiosas e festivas um instrumento que, na Grécia de nossos dias, é conhecido como "aulos", nos Países Árabes, como "mijwiz", e no Egito, como "arghoul".
Trata-se
de vários caniços equipados com palhetas que são amarrados uns nos outros.
Estes
instrumentos musicais eram feitos, em sua grande maioria, por pastores e
camponeses.
Tais
instrumentos eram tocados diretamente na boca. Isto exigia do músico uma
técnica de sopro que ainda é utilizada, apesar de ser difícil sua execução por
um principiante. Esta técnica é conhecida como "sopro contínuo" ou
"respiração circular". Aqueles que ouvem um aulos ou uma alboka
(instrumento tocado no Nordeste da Espanha, País Basco) pensam que o músico tem
uma capacidade pulmonar sobre-humana pois a respiração circular é feita de
forma que o instrumento não páre de soar, enquanto o músico faz uma ligeira
pausa para respirar.
Talvez
para se tornar mais cômodo, não se sabe bem ao certo, alguns pastores tenham
decidido que poderia-se acoplar tais tubos a um saco reservatório de ar, em vez
de se tocar usando tal técnica. O som de um ou mais tubos sonoros poderia ser
igualmente produzido de forma contínua, porém com menos esforço, visto que tal
saco serveria como um "terceiro pulmão" para o músico. Os sacos de
couro eram muito utlizados como reservatórios de líquidos naqueles tempos
longínquos.
É
especulativo mas, muito provavelmente, a Gaita-de-Fole nasceu desta forma.
Para
fazer este saco, usava-se o couro de cabra ou carneiro. Em alguns modelos de
Gaitas-de-Fole ainda se usa o formato do próprio animal como "design"
do instrumento, acoplando-se o ponteiro, soprete e roncos (partes constitutivas
da Gaita-de-Fole), no espaço onde estavam as patas dianteiras e o pescoço da
cabra.
Foi um instrumento muito popular na Idade Média entre pastores e camponeses, que saiam de suas regiões de origem muitas vezes em busca de trabalho. Provavelmente esta também tenha sido uma das formas com que o instrumento tenha se difundido pela Europa daqueles dias, entre os músicos populares.
Era feito de couro de cabra e madeira ou caniços.
Foi um instrumento muito popular na Idade Média entre pastores e camponeses, que saiam de suas regiões de origem muitas vezes em busca de trabalho. Provavelmente esta também tenha sido uma das formas com que o instrumento tenha se difundido pela Europa daqueles dias, entre os músicos populares.
Era feito de couro de cabra e madeira ou caniços.
Existem
modelos nos quais são acrescentados chifres que servem como um amplificador de
som, o que serve como mais um indicativo, entre outros, da origem pastoril do
instrumento.
Segundo
alguns estudiosos do assunto, é possível que o instrumento tenha sido difundido
pelo mundo antigo por meio dos conquistadores romanos. Alguns dizem que tal
gaita era conhecida pelo nome de "Tibia Utricularis”, mas tal informação
ainda não está de todo confirmada.
Acredita-se
que os legionários romanos a tocavam como instrumento militar para inspirarem
os soldados à luta. Através das guerras expansionistas do Império Romano
difundiram a cultura musical deste instrumento por quase todo o território
continental europeu.
No
entanto, há de se considerar que, pelo menos no leste europeu, a Gaita-de-Fole
possui características sonoras muito parecidas com as gaitas do Oriente Médio.
Talvez pelo domínio otomano na região, tal cultura musical tenha chegado em
tais localidades.
Em
todos os casos, enfim, são teorias feitas em cima de poucos dados arqueológicos
disponíveis, pelo menos até o momento.
Ainda
segundo alguns musicólogos, apesar deste número ainda não ter sido confirmado,
estima-se que existem, talvez, até mesmo centenas de tipos de Gaitas-de-Fole
espalhadas entre os países europeus, africanos, árabes e asiáticos, com nomes
diferentes (gaita, gaida, bagpipe, cornamusa, musette, odrecillo, säckpipa,
chevrette, sackpfeifen, piòb mhor, düdelsack, bock, surle, uilleann, etc), aspectos
e sonoridades variadas mas basicamente a mesma estrutura: um saco que funciona
como reservatório de ar e uma flauta (ponteiro) equipada de uma palheta,
acompanhada ou não, de um ou mais tubos que produzem um som contínuo (ronco ou
bordão).
Nos
países de língua portuguesa, o instrumento é conhecido como Gaita-de-Fole (ou
Gaita-de-Foles) ou simplesmente gaita, termo também utilizado em outras
localidades da Península Ibérica e países de língua espanhola com algumas
variações como "gaita de fuelle" ou "gaita de fol", sendo
este último encontrado na Galiza, região fronteiriça ao norte de Portugal.
Em
alguns países ela teve seu declínio por motivos variados como o simples
desprezo das classes elitizadas ou, em casos mais extremos, a proibição
religiosa. Mas, curiosamente, em alguns momentos da história o mesmo
instrumento "demoníaco" também era tocado em igrejas católicas como
um "instrumento Divino".
Tudo leva a crer que o primeiro relato histórico do instrumento nas Américas tenha sido no Brasil, onde chegou com as Caravelas de Pedro Álvares Cabral, e permaneceu com certa popularidade até meados do século XVIII. Em Portugal a Gaita-de-Fole sobreviveu nos meios rurais mais afastados.
Tudo leva a crer que o primeiro relato histórico do instrumento nas Américas tenha sido no Brasil, onde chegou com as Caravelas de Pedro Álvares Cabral, e permaneceu com certa popularidade até meados do século XVIII. Em Portugal a Gaita-de-Fole sobreviveu nos meios rurais mais afastados.
Está
sendo recuperada por etnógrafos e musicólogos através de intensas pesquisas.
Com isto, deixou de ser tocada apenas pelos mais velhos para ser apreciada,
também, pelos mais jovens. Em terras brasileiras o mesmo está acontecendo:
o interesse pelo instrumento está sendo (re)despertado e, posso dizer que o
objetivo destas linhas aqui escritas é despretensioso, sendo apenas
informativo, visto que a maior parte dos brasileiros desconhece a sua herança
gaiteira luso-brasileira, pensando que a gaita seja de origem exclusivamente
escocesa, o que é um engano.
Podemos
concluir este pequeno relato dizendo que a gaita-de-fole é um instrumento que
atravessou vários séculos, podendo até mesmo ser considerado "patrimônio
da humanidade" pois não é de propriedade deste ou daquele povo, existindo
em vários países e culturas do Mundo. Esteve presente nos mais variados
contextos das sociedades do passado, ora tocada em momentos de prazer- como
festas- ora em momentos de profunda reflexão e devotamento- como cultos- ora em
momentos de fúria, como em guerras.
E
como as civilizações, teve seu apogeu e seu declínio, mas sempre sobrevivendo e
se adaptando à passagem dos séculos, às dificuldades e, em alguns casos, à
ignorância humana.
A Gaita de fole no Brasil
O
primeiro relato histórico de um instrumento europeu no Brasil indica que seja a
Gaita-de-Fole.
Esta informação consta na Carta de Pero Vaz de Caminha, quando do Descobrimento do Brasil.
Aliás, podemos ir até mais além: o primeiro relato de uma Gaita-de-Fole em todas as Américas (do Norte, Central e Sul) é datado de 1500, justamente no Brasil.
Esta informação consta na Carta de Pero Vaz de Caminha, quando do Descobrimento do Brasil.
Aliás, podemos ir até mais além: o primeiro relato de uma Gaita-de-Fole em todas as Américas (do Norte, Central e Sul) é datado de 1500, justamente no Brasil.
Isto
faz do Brasil o primeiro país do "novo mundo" a ter recebido dos
europeus uma Gaita-de-Fole.
Dois
trechos escritos por Caminha evidenciam a presença de gaitas e gaiteiros
naquele dia:
1)
"cõ jsto se volueo bertolameu dijz ao capitam e viemonos aas naaos acomer
tanjendo tronbetas e gaitas sem lhes dar mais apresam e eles tornaramse
aasentar na praya”;
2)
“pasouse emtam aalem do rrio diego dijz alxe que foy de sacauem que he homê
gracioso edeprazer e leuou comsigo hû gayteiro noso cõ sua gaita e meteose cõ
eles adançar tomandoos pelas maõs e eles folgauam e rriam e amdauam cõ ele muy
bem ao sõ dagaita”.
O
relato à seguir é similar ao exposto acima, porém, traduzido para o português
contemporâneo. Referindo-se aos indígenas, Caminha comenta:
"E
além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem
se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do
rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de
prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar
com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito
bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando
no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E
conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como
de animais montezes, e foram-se para cima."
Por mais incrível que pareça, até meados do século XIX, há relatos de que a Gaita-de-Fole portuguesa foi tocada no Brasil.
Uma
ilustração muito interessante, de Rugendas, mostra um escravo a tocar uma
gaita-de-fole).
No
livro "Vocabulário da Língua Brasílica" de 1621, de autoria de
Leonardo do Vale a palavra “gaita” aparece como "membi" e “gaiteiro”
como “membigaçara”, no idioma tupi. Provavelmente esta era a forma como os
índios referiam-se ao instrumento tocado pelos portugueses, visto que, no
Brasil, não existia gaitas-de-fole ou instrumento similar tocado pelos
indígenas.
No
poema Ásia (Lisboa: Germão Galharde, 1552), o autor João de Barros comenta
sobre a despedida da embarcação de Pedro Álvares Cabral, no Porto de Lisboa, em
9 de Março de 1500:
“E
o que mais levantava o espírito destas cousas, eram as trombetas, atabáques,
séstros, tambores, frautas, pandeiros, e até gaitas, cuja ventura foi andar em
os campos no apascentar dos gádos, naquele dia tomáram posse de ir sôbre as
águas salgadas do mar, nesta e outras armadas, que depois a seguiram, porque,
para viágem de tanto tempo, tudo os homens buscavam para tirar a tristeza do
mar.”
Neste
poema a gaita-de-fole torna-se muito mais que um instrumento musical. Era uma
evocação, quando tocada, às mais alegres lembranças dos campos verdejantes de
Portugal, onde podia-se ouvir o som da gaita sendo tocada pelos pastores ou,
ainda, lembranças de bons momentos em festividades. Lembranças estas que
acompanharam os marinheiros por uma viagem tão longa à terras desconhecidas.
Um
texto traduzido para o castelhano sobre os jesuítas, na sua missão
catequisadora pelo Brasil, diz sobre a solicitação de instrumentos musicais
europeus, entre eles, a gaita-de-fole.
Na
Bahia, em 5 de agosto de 1552, uma carta de um menino indígena, escrita pelo
Padre Francisco Pires ao Padre Pero Doménech em Lisboa (LEITE, 1956), diz:
“Parézeme,
según ellos son amigos de nossas músicas, que nosotros tañendo y cantando entre
ellos los ganaríamos, pues differencia ay de lo que ellos hazen a lo que
nosotros hazemos y haríamos si V. R.a nos hiziesse proveer de algunos
instrumentos para que acá tañamos (imbiando algunos niños que sepan tañer),
como son flautas, y gaitas, y nésperas, y unas vergas de yerro con unas
argollicas dentro, las quales tañen dando con un yerro en la verga; y un par de
panderos y sonajas. Si viniesse algún tamborilero y gaitero acá, parézeme que
no havría Principal que no diesse sus hijos para que los enseñassen.”
Em
outro relato, datado de 16 de Outubro de 1585, o jesuíta Fernão Cardim,
escrevendo do Colégio da Bahia, informa sobre uma festa realizada em 6 de
janeiro de 1584:
“Acabada
a festa espiritual lhes mandou o padre visitador fazer outra corporal, dando
lhe um jantar a todos os da aldêa, debaixo de uma grande ramada. [...] Emquanto
comiam, lhes tangiam tambores, e gaitas.”
Gregório
de Matos e Guerra (1633? - 1696), poeta, escreveu um romance que começa com “Vamos
cada dia à roça”, que diz:
“Vamos,
e fiquemos lá
um
dia, ou uma semana,
que
enquanto as gaitas se tocam,
sabe
a roça, como gaitas.”...
“E
nos vamos para a roça
com
nosso feixe de gaitas
até
ver me descasada
para
me rir, de quem casa.”
Para
alguns estudiosos do assunto, pode haver uma ambigüidade no emprego da palavra
"gaita" pois não há meios de ter um "feixe de gaitas".
Acreditam que o autor referia-se à flautas. No entanto, um gaiteiro pode
carregar uma gaita-de-fole pegando-a pelo soprete e tubos sonoros (ponteiro e
ronco) assemelhando-se à um feixe.
Em documentos históricos do século XVIII, como o "Triunfo Eucarístico", ou o "Áureo Trono Episcopal", que relata a chegada a Mariana do primeiro Bispo, Dom Frei Manuel da Cruz, mais uma vez, a gaita-de-fole é citada.
Outro relato, já um pouco mais "recente", datado do século XIX, fala sobre as experiências do viajante inglês Henry Koster pelo Brasil, que diz:
Em documentos históricos do século XVIII, como o "Triunfo Eucarístico", ou o "Áureo Trono Episcopal", que relata a chegada a Mariana do primeiro Bispo, Dom Frei Manuel da Cruz, mais uma vez, a gaita-de-fole é citada.
Outro relato, já um pouco mais "recente", datado do século XIX, fala sobre as experiências do viajante inglês Henry Koster pelo Brasil, que diz:
Em
janeiro de 1812 ele (Koster) acompanhou a revista que um capitão-mor de um
distrito
vizinho ao seu fez aos oficiais das companhias de ordenança sob seu comando. Na povoação de Bom Jardim, em Pernambuco, a inspeção deu-se na companhia do capitão Anselmo, um agricultor de algodão de recursos mais modestos, cuja fazenda contava com cerca de 40 escravos. Conta Koster que, na hora do jantar, o capitão chamou seus músicos...
vizinho ao seu fez aos oficiais das companhias de ordenança sob seu comando. Na povoação de Bom Jardim, em Pernambuco, a inspeção deu-se na companhia do capitão Anselmo, um agricultor de algodão de recursos mais modestos, cuja fazenda contava com cerca de 40 escravos. Conta Koster que, na hora do jantar, o capitão chamou seus músicos...
"...
três negros com gaitas de foles começaram a tocar pequenas toadas
em
tons diversos um do outro, e às vezes, [eu] supunha que um deles
executava
peças de sua própria composição. Imagino que alguém jamais
tentou
produzir harmonias sonoras com tão mal resultado como esses
charameleiros.
A posse de uma dessas bandas empresta um certo grau
de
superioridade e, conseqüentemente, os ricos plantadores têm orgulho
pelos
seus músicos (KOSTER, 1942, p. 272)."
Com
o exposto é evidente, pois, que a Gaita-de-Fole foi presente nas primeiras
sociedades luso-brasileiras. No entanto, desapareceu da nossa cultura, talvez
por desinteresse das sociedades posteriores que preferiram instrumentos que
eram mais tocados em conservatório, como violinos, flautas, clarinetes, etc, à
um instrumento que era tocado, na Europa, por pastores, camponeses e gente
humilde, que tocavam a gaita para passar o tempo enquanto pastoreavam ou, que
tocavam o instrumento musical para adorarem, nos ritos católicos, os santos das
festividades religiosas ou, até mesmo, para animar as bebedeiras em
prostíbulos.
Eis, portanto, a necessidade de recuperarmos a cultura gaiteira que, intensa ou não, existiu, de alguma forma, no Brasil.
Eis, portanto, a necessidade de recuperarmos a cultura gaiteira que, intensa ou não, existiu, de alguma forma, no Brasil.
http://www.gaitadefole.com/historia.htm
http://www.gaitadefole.com/gaita-no-brasil.htm
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